17º Congresso Sabincor de Cardiologia - Inovação Contínua - A Arte de Cuidar do Coração 03 a 05 de outubro de 2019 Trade Hotel Juiz de Fora/MG

Cardiotoxicidade dos Antineoplásicos e Estratégias para Cardioproteção

Quando o mundo emergiu dos horrores da segunda grande guerra, o fez com uma face diferente. Na sombra das terríveis atrocidades e sofrimento, houve indiscutível progresso científico. Com a medicina não foi diferente. O advento de novos medicamentos, em especial os antibióticos, vacinação e higiene, além de métodos diagnósticos mais precisos e a urbanização, modificaram as causas de morte da população.

As doenças cardiovasculares, ganharam importância singular, imprimindo mudanças radicais nas estatísticas do mundo ocidental. O infarto do miocárdio, o acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca e arritmias, paulatinamente substituíam os agravos infecciosos.  Europa e Estados Unidos debruçaram sobre o combate às causas destas doenças e concluíram que a hipertensão arterial o aumento do colesterol, o diabetes e o tabagismo eram os maiores vilões.  A idade avançada, sexo masculino, hereditariedade, sedentarismo e personalidade competitiva embora relevantes, ganharam importância menor, nos anos de 1950.

Nos anos 2000, o INTERHEART, um grande estudo mundial foi conduzido para confirmar, e o fez com sucesso, a importância dos fatores de risco descritos anteriormente. Nestes novos tempos, ganharam maior dimensão o estresse psicossocial persistente, depressão e a obesidade, sobretudo a abdominal.  O consumo diário de frutas e vegetais, uso moderado de álcool e atividade física regular foram declarados protetores.

Combater os males do coração significa atacar suas causas. O Brasil é exemplo mundial de sucesso no combate ao tabagismo e as leis restritivas são de especial importância. Hoje menos de 10% dos brasileiros fumam. A proibição do álcool, ganha a cada dia mais adeptos, visto que o legado negativo é superior a qualquer importância preventiva. Trata-se com sucesso a hipertensão, o diabetes e as dislipidemias. Tendo como aliado o maior acesso à informação, como era de esperar têm-se reduzido as consequências destes fatores, inclusive a mortalidade por causas cardiovasculares.

Merece atenção o estudo PURE, publicado recentemente. Nesse trabalho procura-se correlacionar as causas de morte como a renda de diversos países, importante para se propor políticas de saúde.  Foram inscritos 21 países, em cinco continentes perfazendo 162.534 indivíduos entre 35 e 70 anos. Os países foram classificados em renda alta, média e baixa.

Durante o acompanhamento, 11.307 (7,0%) participantes morreram, 9329 (5,7%) participantes tiveram doença cardiovascular, 5151 (3,2%) tiveram câncer, 4386 (2,7%) tiveram lesões que exigiam internação hospitalar, como pneumonia ou DPOC. As doenças cardiovasculares foram a causa mais comum de óbito nos países de baixa e média renda.  No entanto, neoplasias malignas foram mais comuns nos de alta renda. Estes resultados refletem melhores cuidado na prevenção e tratamento das doenças cardiovasculares nos países com mais recursos. Repete o que aconteceu com as infecções, domadas primeiramente nos países mais ricos.

Nota-se semelhante transição nas causas predominantes de morte na meia-idade. À medida que a doença cardiovascular diminui em muitos países, a mortalidade por câncer provavelmente se tornará a principal causa de morte. Com crescimento da mortalidade por câncer e a ocorrência ainda extremamente alta de moléstias cardiovasculares, é de se esperar crescimento do número de indivíduos com coincidência dos os dois tipos de transtorno.

Conhecemos a  eficácia e o poder das medicações antineoplásicas, mas não podemos deixar de reconhecer o potencial devastador que as acompanha, notadamente em pacientes mais frágeis como os cardiopatas.

Conhecer o potencial maligno e paraefeitos dos antineoplásicos, bem como sua interação com os medicamentos utilizados em cardiologia, torna-se tarefa difícil o que fará se reconhecer no futuro uma nova subespecialidade, a cardioncologia.  Com o crescimento veloz e explosivo de informações nessa área, há que esperar que alguns cardiologistas sejam capazes de acumular maior conhecimento e expertise no tema, tornando-se mais aptos a lidar com esses pacientes, bem como transferir informações seguras e relevantes sobre o tema aos demais colegas.

Com esta finalidade o Sabincor traz o professor Eduardo Nani, com ampla experiência e conhecimento no assunto. Formado pela Universidade Federal Fluminense em 1982, fez residência, mestrado e doutorado na mesma corporação. O cargo de professor associado de cardiologia da Universidade Federal Fluminense e chefe do Departamento de Medicina Clínica da Faculdade de Medicina, coroa sua trajetória e engrandece a instituição.